21 de julho de 2023

O Juiz e a sua história – Dr. José Olindo -TJPI

Nesta semana, o quadro “O Juiz e a sua história” coloca em evidência a trajetória de superação e de amor à judicatura do Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, Dr. José Olindo.

Nesta semana, o quadro “O Juiz e a sua história” coloca em evidência a trajetória de superação e de amor à judicatura do Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, Dr. José Olindo. Filho de um Tabelião e de uma Serventuária da Justiça (cartorária), Dr. José Olindo nasceu no interior do Piauí, em Altos, a 34 quilômetros de Teresina, e teve uma infância feliz ao lado dos outros seis irmãos, em uma época livre de violência, na qual as crianças se ocupavam com peraltices, brincando livremente.

Dr. José Olindo iniciou os estudos aos sete anos e já naquela época começou a se destacar ao ser aprovado em primeiro lugar no exame de admissão para o curso ginasial, com um ano de antecedência, após sugestão de seus professores. Ele cursou o 2º grau em Teresina e ingressou  na faculdade de Direito da Universidade Federal do Piauí (UFPI), com conclusão em 1986. Em seguida, ele se submeteu ao Exame da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, na seccional do Piauí,  obtendo a 9ª melhor nota. Dr. José Olindo também cursou uma pós-Graduação na Escola de Magistratura do estado do Piauí – ESMEPI e advogou por dois anos.

Em meados de 1988, Dr. José Olindo ingressou na Magistratura piauiense, conquistando a 13ª colocação, em um universo de 50 vagas. Ele assumiu o cargo em março do ano seguinte e passou pelas comarcas de Landri Sales, Picos, Ribeiro Gonçalves, Manoel Emídio, Angical do Piauí, São Pedro, Oeiras, Altos, até a promoção para Teresina, em 2010, quando assumiu a então recém-criada Vara do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher (Maria da Penha), onde permaneceu por 11 anos até assumir uma vaga como Juiz Titular do Juizado Especial Cível e Criminal – Zona Leste II, que funciona na sede da Universidade Federal do Piauí.

Um episódio na vida do Magistrado, ocorrido em outubro de 2004, mudou o curso de sua vida. Após presidir as Eleições Municipais em Oeiras e outras cinco cidades, além de sofrer a perda de um irmão, Dr. José Olindo foi acometido de uma grande dor na região lombar que não cedia com nenhum analgésico e mesmo buscando ajuda em grandes centros como São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, o Magistrado ficou paraplégico, e desde então vem sentindo na pele as dificuldades que uma pessoa com deficiência (PCD) enfrenta no Brasil, como a falta de acessibilidade, de adaptação em prédios públicos, de consciência de pessoas que ocupam vagas destinadas a esse público. Nesta semana, o Magistrado conversou com a ANAMAGES e falou sobre os desafios de sua vida, sobre o recurso terapêutico da música e de sua dedicação à Magistratura.

ANAMAGES: Que obstáculos surgem em seu dia a dia?

Dr. José Olindo: A vida do cadeirante é muito difícil. Como Juiz e como cadeirante tive que enfrentar vários obstáculos. Já tive que deixar de participar de reunião convocada pelo então Corregedor, por falta  de acessibilidade no local. Já tive que descer quatro andares, oito lances de escadas, do prédio do fórum,  levado   por   mãos    de    pessoas,   após    uma    queda    de    energia,    por falta  de gerador no prédio.

ANAMAGES: O episódio com a sua saúde demonstrou a grandeza de sua força e resiliência. Como o senhor cuida de sua mente para manter o equilíbrio emocional?

Dr. José Olindo: Inúmeros outros obstáculos já se apresentaram para mim ao longo dessa trajetória de vida na Magistratura. Sempre com a cabeça levantada e demonstrando ser tão capaz ou melhor do que qualquer outro colega hígido. Já são quase vinte anos nessa luta de vida de deficiente. Porém, sempre com um sorriso no rosto e com uma palavra de estímulo na boca. Em vez  de lamentos, gosto de cantar. Para mim, não existe terapia melhor.

ANAMAGES: O senhor é dono de uma bela voz que sustenta desde consagrados ritmos nacionais a internacionais, como da banda inglesa Pink Floyd. Comente qual a influência da    música em sua vida como instrumento de superação.

Dr. José Olindo: A música para mim é muito importante. Gosto de ouvir e, principalmente, de cantar músicas. Ela se tornou para mim, nesses tempos, uma verdadeira terapia. Ela me acalma e me conforta. Eu me esforço muito para que a minha voz seja, na música, audível e agradável de se ouvir.

Eu já gravei várias músicas e alguns CDs. No grupo de WhatsApp da Magistratura do meu tribunal, aos sábados, costumo postar  algumas músicas gravadas por mim.

ANAMAGES: Fale sobre os apoios que o senhor recebe em casa e no ambiente de trabalho e qual a  importância desse suporte para a sua vida.

Dr. José Olindo: Bem, o apoio da minha família é essencial para que eu leve uma vida mais próxima possível do que poderíamos chamar de normal. A esposa e os filhos são o baluarte que me ajudam sempre. A esposa  deixou de trabalhar para que pudesse me acompanhar, inclusive sendo a minha motorista nos deslocamentos para o trabalho e outros locais. No ambiente de trabalho, também, recebo apoio de colegas e servidores que por lá se encontram e trabalham.

ANAMAGES: O senhor é um grande exemplo de dedicação à judicatura. Fale sobre este propósito vocacionado que vence diariamente tantos desafios.

Dr. José Olindo: Olhe, quando a gente se propõe a fazer alguma coisa, se deve fazer com muita dedicação. Sempre, ao longo desses 34 anos de Magistratura, desde o primeiro dia e até hoje, eu me dediquei muito em realizar um trabalho satisfatório de prestação jurisdicional à sociedade e conforme as leis e a Constituição do nosso País. Sendo humilde, sem perder a autoridade que o cargo exige. Passei por várias comarcas e delas saí incólume, sem nenhuma nódoa que manchasse o meu caráter. Gosto muito de ser Juiz. Considero uma tarefa divina reservada somente a Deus, que é a de julgar as pessoas e aplicar a sanção de vida.